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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Lembranças do passado

Ainda me lembro perfeitamente de quando ainda era menina e presenciava minha avó organizando a medicação do meu avô. Na verdade, não entendia muito bem o motivo de tantos remédios separados em copinhos de café (naquela época ainda não existiam os separadores de remédios) mas sabia muito bem que a vida de minha avó não era nada convencional.
Ela cuidava de tudo sozinha... Era pai, mãe, organizava tudo, resolvia todos os problemas... meu avô sempre tinha o mesmo comportamento. Se alimentava muito bem (na verdade, descontroladamente), assistia televisão e dormia. Era maluco por doces, sabia tudo sobre as novelas (principalmente o que ia acontecer no fim), tinha um terço enorme que era uma verdadeira relíquia, sempre ia à missa e, na medida do possível, das condições e limitações, foi um pai, esposo e avô exemplar.
A vida foi dura, principalmente para minha avó, meu pai e meus tios, afinal, meu avô era portador de uma doença que pode acontecer com qualquer pessoa, mas as pessoas não estão preparadas para lidar com esse tipo de doença.
O meu avô José tinha Esquizofrenia.
Desde muito cedo me lembro das idas e vindas às Clínicas Psiquiátricas. Aos poucos fui crescendo e passei a poder entrar nas Clínicas para as visitas. Era também muito comum depois dos longos períodos de internação ter que curar as feridas. Feridas da alma e feridas físicas.
Por motivo de agitação era amarrado à cama e os pulsos e tornozelos eram amarrados na cama e algumas vezes vi machucados enormes, alguns curados com muito sacrifício por minha avó. Lembro de minha mãe sofrendo e até chorando por ver a que ponto os machucados chegavam.
Era a consequência da doença, das internações.
Em setembro de 2003 meu avô faleceu em uma Clínica Psiquiátrica na cidade de Juiz de Fora. Não que a família tivesse abandonado. O fato é que a situação não permitia mais que o tratamento fosse feito em casa.
O corpo foi removido para Carangola onde foi enterrado. Fui encarregada de receber o corpo visto que todos estavam em Juiz de Fora.
Por volta das cinco horas da manhã me preparei e entrei no local do velório e juntamente com a pessoa responsável pelo transporte do corpo, abri o caixão. Confesso que não foi nada agradável...
Meu avô estava coberto por algumas poucas flores, os pulsos machucados, enfim, nada arrumado.
Depois de alguns contatos com pessoas conhecidas consegui comprar as flores e eu mesma, sozinha, preparei meu avô para receber as últimas homenagens. Arrumei a camisa de forma que os machucados do pulso não apareciam, cobri o corpo totalmente com flores, coloquei um terço nas mãos.
Agora eu estava frente a frente com meu avô e não sabia mais o que fazer. Parece que depois de tudo as forças acabaram. Chamei minha irmã que estava o tempo todo no carro com meu filho no colo e começamos então a velar o corpo.
Terminou assim um ciclo de nossas vidas. Começou aí minha verdadeira admiração por minha avó, uma guerreira, vencedora.

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